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de Processo

Diários

“Quando algo me toca fundo, sinto uma luz se acender por dentro. Paradoxalmente, é uma euforia que vem da parte mais silenciosa de mim, empurrando a mão a desenhar, a escrever. Faço isso nesses cadernos. Gosto de folhear e ver que eles contêm uma arqueologia do que vem sendo criado. É como se vocês pudessem ver ali o borbulhar da minha cabeça.”  - Katia Wille

Desde muito cedo, Katia Wille estabeleceu uma relação orgânica entre pensamento e imagem. Seus cadernos de artista são densos, múltiplos, e ganharam diferentes formatos e ritmos ao longo dos anos. Eles funcionam como espaços vivos de elaboração poética e conceitual. Mais do que esboços ou registros de bastidor, são corpos por onde a obra passa antes de nascer, campos de condensação onde o sensível e o intelectual se entrelaçam em estado de fermentação.

O gesto de desenhar, para a artista, se faz com todo o corpo e funciona como um ato inaugural de suas obras. Cada página reúne fragmentos do mundo interno e do entorno: pensamentos, desenhos, citações de sua pesquisa, colagens, paletas Pantone, plantas e figuras humanas — tudo emerge como uma trama de sustentação feita à mão. Há uma arqueologia íntima que se estabelece nesse acúmulo, onde os registros de exposições, os estudos da forma e da cor se entrelaçam com a observação do cotidiano e o exercício constante da escuta de si.

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Há um cuidado artesanal nesses livros, que se apresentam como extensão do corpo da artista: sua mão pensa enquanto traça, escreve enquanto observa, borda ideias e sensações com a matéria do tempo. O que está em jogo aqui não é uma busca de definição, mas o mergulho em zonas de transição, entre o impulso e a estrutura, o íntimo e o político, o vivido e o projetado.

O caderno torna-se então uma forma de pensamento encarnado, uma superfície de inscrição que acolhe os embriões das obras futuras e também aquilo que jamais será obra. Eles guardam a hesitação e o acerto, a repetição e o risco, a delicadeza do instante e a opacidade do processo. Para Wille, esses diários são arquivos pulsantes do mundo que se elabora entre as páginas.

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